programar e planificar evsuperstar


Departamento de Física e Astronomia
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
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rogramar e planifica

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Por vezes confunde-se programação com planificação. Contudo, o seu
significado é bastante diferente, como veremos. Etimologicamente, programar
significa "escrever antes", organizar, enquanto que planificar significa "tornar
claro".
A) Porquê programar ?
... porque existe:
1. Uma equipa de professores (QUEM ?)
Num local de trabalho como a Escola, em que existe uma equipa de
professores e um certo número de turmas de várias disciplinas e anos
lectivos, é certamente necessário efectuar uma programação, que começa
quando os alunos se inscrevem na Secretaria (até um determinado limite),
quando as turmas são constituídas mediante critérios previamente definidos e
quando os horários de alunos e professores são elaborados. A escolha de
horários pelos docentes - respeitando a ordem de graduação profissional -
define quais as disciplinas, anos lectivos e turmas que cada um vai leccionar
no ano escolar que se inicia.
2. Um programa de ensino (O QUÊ ?)
A existência de programas de ensino oficiais, que têm de ser obrigatoriamente
cumpridos (pelo menos o núcleo fundamental de conteúdos, ou programa
mínimo) exige uma programação prévia:
- Por onde começar (por exemplo, pela Física ou pela Química ?)
- Número de aulas necessárias para cada assunto
- Definição de prioridades
- Actividades extracurriculares (visitas de estudo, semanas de ciência, ...)
3. Um calendário escolar (QUANDO ?)
O calendário escolar condiciona fortemente o cumprimento dos programas.
Um dos aspectos mais importantes da programação é contabilizar o número
de aulas efectivamente disponíveis em cada período escolar, descontando
feriados e interrupções de aulas, semanas abertas, avaliações, etc.
A confrontação deste número de aulas com aquelas que são consideradas
necessárias para cada assunto, leva muitas vezes à definição de prioridades e
a alguns sacrifícios.
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4. Instalações específicas (ONDE ?)
Em áreas disciplinares como a Física e a Química, que dispõem de
instalações específicas, tais como laboratórios ou salas de audiovisuais, a
programação implica também um estudo da utilização racional dos espaços e
equipamentos, de modo a permitir que todas as turmas tenham iguais
oportunidades de acesso a eles.
Algumas Escolas marcam uma aula de laboratório semanal no horário de
cada turma; outras, deixam os laboratórios permanentemente livres, ficando a
cargo dos docentes a calendarização da sua ocupação, de acordo com as
necessidades a médio e curto prazo.
Note-se que a programação é incontornável e é sempre levada a cabo em
todas as Escolas, em maior ou menor grau, com melhor ou pior qualidade.
B) Porquê planificar ?
A legislação obriga o Grupo de professores a manter dossiers com as suas
planificações lectivas relativamente detalhadas - não uma simples
programação ! - normalmente consultadas e discutidas pelos inspectores
pedagógicos que visitam as Escolas.
Para além de ser uma obrigação legal, a planificação lectiva é essencial para
um ensino de qualidade, já que representa a síntese do trabalho de
preparação de aulas pelo(s) professor(es). Nenhuma planificação pode ser
considerada em si mesma como um fim, mas antes como um meio auxiliar da
prática pedagógica; assim, deve ser realista e relativamente sintética.
Por vezes, na formação inicial de professores, a preocupação em elaborar
documentos muito completos leva a que esta tarefa se torne monótona e até
bastante penosa. O resultado é, não só produzir planificações que se revelam
pouco práticas, como até convencer os jovens docentes a nunca mais
elaborarem uma planificação ao longo da sua carreira...
Felizmente, muito do trabalho de planificação não tem que ser executado
todos os anos. Quando os professores voltam a leccionar o mesmo programa,
normalmente limitam-se a efectuar ajustes, em função do perfil dos seus
alunos e da experiência colhida anteriormente.
Para planificar é necessário:
- conhecer o perfil dos alunos (idade, características socioculturais, tipo de
formação anterior, etc.);
- programa oficial;
- livro adoptado;
- outros recursos disponíveis (materiais, equipamentos, etc.).
Em termos genéricos, uma planificação deve indicar:
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Para onde se deve caminhar, através da especificação de finalidades e/ou
objectivos. Designa-se por finalidades as metas do Sistema Educativo,
dos Programas ou até do professor, definidas antes do processo de
ensino-aprendizagem. Os objectivos, que decorrem daquelas, traduzem
comportamentos do aluno, podendo ser de processo (ao longo do
processo de ensino-aprendizagem) ou de produto (no final de uma
unidade, ano lectivo, curso). Estes comportamentos não devem limitar-se a
aspectos conceptuais, devendo também cobrir aspectos processuais,
sociaisatitudinais axiológicos.
A partir de onde se vai ensinar, ou seja, quais os pré-requisitos mínimos
que os alunos devem ter para estar em condições de iniciar o estudo de
uma determinada unidade lectiva. Estes podem ser do âmbito da própria
disciplina ou ser até competências básicas de outras áreas como a
Matemática e o Português (basic skills).
Para quem se vai dirigir o ensino, isto é, qual o perfil dos alunos-alvo, o
que normalmente implica um diagnóstico, que pode investigar não só o
domínio dos pré-requisitos, como também a existência de concepções
prévias ("alternativas") não compatíveis com os conceitos científicos a
introduzir.
Como vai ser implementado o processo de ensino-aprendizagem, ou seja,
quais os métodos, técnicas e estratégias de ensino que irão ser utilizados.
Com que materiais didácticos e equipamentos podemos contar na Escola
onde o ensino se irá efectuar.
Que resultados iremos obter no final da unidade didáctica ou ano lectivo,
utilizando instrumentos de avaliação previamente preparados em função
dos objectivos de ensino/aprendizagem.
Podemos distinguir dois níveis de planificaçãoa médio e a curto prazo.
planificação a médio prazo, também designada plano de unidade
didáctica, deve ser um trabalho de grupo, envolvendo os professores da
Escola que vão leccionar um determinado programa. Realizada com alguma
antecedência relativamente à sua aplicação, tem um certo grau de
generalidade e traduz uma linha de orientação comum - é sobretudo este tipo
de planificação que deve constar dos dossiers de Grupo.
Naturalmente, cada professor, em função das características dos alunos e da
sua própria personalidade, desenvolverá esta linha de orientação, detalhando-
a de acordo com a sua interpretação pessoal; deste trabalho resulta uma
planificação a curto prazo, os planos de aula.
C) O que incluir no plano de unidade didáctica ?
Embora não seja conveniente uma "receita" estereotipada para a planificação,
já que ela deve ir ao encontro das necessidades dos docentes que a irão
utilizar, podemos apontar alguns aspectos importantes a considerar:
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Objectivos
A pedagogia por objectivos é uma herança do ensino programado e está
associada às Teorias de Aprendizagem "behaviouristas". Apesar de hoje em
dia já não ser defensável, a maior parte dos programas escolares continua a
utilizar este tipo de linguagem com o intuito de conseguir alguma
uniformização no produto final da aprendizagem.
Podemos utilizar ou adaptar os objectivos que se encontram nos programas e
manuais escolares, sem necessidade de gastar muito tempo a seleccionar
comportamentos observáveis e verbos de acção, como ainda recentemente
era feito...
Num ensino normal, ao nível do desenvolvimento, devemos privilegiar
objectivos com um grau de generalidade razoável, ou seja, dar prioridade ao
desenvolvimento de capacidades e não de competências muito específicas.
Contudo, a avaliação terá de incidir sobre uma amostragem representativa de
objectivos específicos extraídos daqueles, já que não podemos avaliar
directamente capacidades.
No ensino ao nível do mínimo essencial, que ocorre em situações especiais,
como é o caso do ensino técnico, ou envolvendo alunos com dificuldades de
aprendizagem submetidos a planos de recuperação, o grau de generalidade
dos objectivos torna-se mais específico, com prioridade às competências.
Neste caso, a avaliação incidirá sobre a totalidade dos objectivos específicos.
Conteúdos
O conteúdo conceptual encontra-se, de forma explícita, nos programas. No
caso das ciências contempla, por ordem crescente de complexidade: factos;
conceitos; relações, leis e princípios; modelos e teorias.
Existe alguma liberdade dos professores para organizar convenientemente a
sua sequência, colmatando eventuais lacunas detectadas. Alguns conteúdos
são, por vezes, opcionais, dependendo a sua inclusão do tempo disponível e
das características dos alunos.
Existem diagramas epistemológicos que ajudam a estruturar estes conteúdos,
como é o caso dos mapas conceptuais.
Pré-requisitos
Conhecidos os conteúdos, é fundamental identificar e explicitar quais os pré-
requisitos que os alunos devem ter para a sua leccionação. Já vimos que
estes podem ser do âmbito da própria disciplina ou ser até competências
básicas de outras áreas como a Matemática e o Português (basic skills).
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Diagnóstico
Um aspecto muito importante é a construção de instrumentos de avaliação
diagnóstica adequados, não só para verificar a presença ou ausência dos pré-
requisitos, como também para o levantamento de eventuais concepções
prévias dos alunos.
Por vezes, um teste diagnóstico aplicado antes e depois da unidade poderá
ter uma intenção formativa, permitindo avaliar o progresso do aluno e a sua
evolução conceptual.
Métodos e técnicas/ estratégias
Este é um dos aspectos mais relevantes da planificação. Não se trata de
efectuar um resumo do conteúdo conceptual, o qual normalmente não é
explicitado na planificação. Trata-se sim de explicitar a forma como esse
conteúdo irá ser abordado.
Na planificação de unidade didáctica os professores decidirão qual ou quais
os métodos de ensino mais convenientes e quais as técnicas mais adequadas
(uso de audiovisuais, recurso a trabalho de grupo, experimentação, etc.). No
que respeita às estratégias, embora o seu desenvolvimento seja mais tarde
efectuado, com todo o detalhe, por cada professor nos seus planos de aula,
poderão também efectuar-se já algumas escolhas genéricas.
Alguns exemplos de estratégias importantes:
- Questionar e formular problemas resolúveis;
- Recolher e/ou analisar dados;
- Colaborar e partilhar informação, na busca de soluções;
- Resolver conflitos conceptuais;
- Efectuar generalizações, procurando construir conhecimento;
- Desenvolver conceitos e relações a partir da experiência empírica;
- ...
A definição atempada de estratégias torna-se essencial sempre que estas
impliquem a preparação prévia de materiais e equipamentos.
Recursos: materiais didácticos e equipamentos
Os materiais didácticos terão certamente uma melhor qualidade se forem
preparados e discutidos com antecedência pelo Grupo de professores:
transparências, filmes, textos, fichas de trabalho, protocolos experimentais,
mapas de conceitos e outros diagramas epistemológicos, etc. deverão ser
anexados ao plano de unidade.
Além disso, deverá ser verificado todo o equipamento disponível, quer
audiovisual, quer experimental e laboratorial. É necessário testar as
experiências previamente, nas condições da sala de aula, para minimizar
possíveis factores de insucesso; isto não significa que um mau resultado
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experimental não possa ter um aproveitamento didáctico, desde que sejam
discutidas e investigadas com os alunos as possíveis causas.
Número de aulas previstas
Embora de forma ainda provisória, deverá efectuar-se uma previsão do
número total de aulas necessárias, incluindo a avaliação.
Avaliação sumativa
O plano de unidade didáctica deverá especificar quais as formas e
instrumentos de avaliação a adoptar: testes, relatórios, fichas de observação,
trabalhos de casa, etc.
A construção desses instrumentos poderá ou não ser efectuada nesta fase.
Contudo, no sentido de uma uniformização do trabalho dos docentes, no
mínimo devem ser elaboradas as respectivas matrizes.
Observações
Poderá ser conveniente deixar um espaço final para observações, onde sejam
registados todos os dados provenientes da "experimentação" do plano com as
diferentes turmas; estes poderão constituir indicações muito úteis para anos
subsequentes.
D) O que incluir nos planos de aula ?
O plano de aula representa a interpretação e desenvolvimento pessoal de
cada docente, relativamente ao plano de unidade anteriormente elaborado
pelo Grupo de professores, em função dos alunos a que se destina.
Embora possa ser um documento bastante detalhado, oposto do "improviso",
o docente deve estar preparado para enfrentar situações imprevistas, que
ocorrem naturalmente em qualquer processo interactivo como é a situação da
sala de aula. Só num ensino transmissivo, exclusivamente centrado no
professor, pode haver a pretensão do cumprimento rigoroso de um plano de
aula.
Os professores menos experientes, especialmente na formação inicial, têm a
tentação de escrever o próprio conteúdo conceptual no plano de aula. Embora
possam, de facto, sentir essa necessidade, deverão fazê-lo em separado, por
exemplo num caderno próprio. Durante o estágio, os planos de aula devem
ser discutidos previamente pelos estagiários com o respectivo orientador.
O plano de aula deve centrar-se em como abordar o conteúdo e não no
conteúdo em si.
Como afirmado anteriormente, não deve haver um único modelo de
planificação. Geralmente os professores mais experientes efectuam planos
bastante sintéticos. Algumas sugestões de tópicos a incluir:
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Numero da aula e sumário
Embora durante a aula o sumário deva ser escrito no fim (só assim temos a
certeza de este corresponder à realidade) no plano de aula (e no próprio
caderno do aluno !) deve surgir em primeiro lugar, como um título ou resumo.
Objectivos e conteúdos
Já contemplados de forma global no plano de unidade, poderá ser útil referi-
los separadamente em cada plano de aula (ou eventualmente com maior
detalhe).
Descrição da aula
A descrição da aula deve, em geral, respeitar a divisão da mesma em três
partes: início, desenvolvimento e final. Devem ser delineadas estratégias
para cada uma destas partes.
Início da aula
No início da aula, depois de os alunos se encontrarem instalados, o professor
apresenta uma visão global dos assuntos a abordar, efectuando o seu
enquadramento no contexto das aulas anteriores. Deverá ainda ter em
atenção aspectos motivacionais, tornando evidentes as relações entre o
conteúdo científico, o desenvolvimento tecnológico e a sociedade em que os
alunos se encontram inseridos (perspectiva CTS).
Desenvolvimento da aula
desenvolvimento da aula inclui todas as actividades e estratégias
previstas.
Deve clarificar-se quais as actividades previstas para os alunos (prever,
observar, planificar, executar, descrever, discutir, explicar, generalizar, etc.) e
para o professor (relembrar, sugerir, apresentar, listar, escrever, projectar,
moderar, sintetizar, explicar, demonstrar, etc.).
As estratégias, já referidas no plano de unidade,
- Questionar e formular problemas resolúveis;
- Recolher e/ou analisar dados;
- Colaborar e partilhar informação, na busca de soluções;
- Resolver conflitos conceptuais;
- Efectuar generalizações, procurando construir conhecimento;
- Desenvolver conceitos e relações a partir da experiência empírica;
- ...
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devem agora surgir de forma detalhada, distribuídas pelo tempo de duração
da aula.
É necessário atender aos dados da psicologia educacional (desenvolvimento
dos alunos, teorias da aprendizagem) e levar em linha de conta possíveis
ideias prévias dos alunos que podem constituir importantes obstáculos
epistemológicos à aprendizagem do conteúdo conceptual; este deve sempre
pautar pelo rigor científico.
Final da aula
No final da aula, deve ser reservado algum tempo para efectuar sínteses,
(escrever o sumário, por exemplo) responder a questões, distribuir trabalho de
casa, obter feed-back dos alunos, etc.
Recursos: materiais didácticos e equipamentos
Anexar e/ou listar todos os recursos no plano de aula permite ao professor
verificar rapidamente se não esquece nada de importante.
Observações
Tal como no plano de unidade, é importante deixar um espaço final para uma
reflexão crítica, onde pode ser registado se:
- os alunos estiveram motivados;
- as actividades se encontravam ao alcance dos alunos;
- a linguagem usada foi adequada;
- o tempo destinado às tarefas foi suficiente;
- os objectivos foram atingidos;
- ...
Um plano de aula deve ser encarado como uma proposta dinâmica,
permanentemente sujeita a correcções e melhorias, de acordo com o feed-
back dos alunos.
E) Bibliografia
Arends, R. I.Aprender a Ensinar, McGraw-Hill, Lisboa, 1997
Coll, C., et al.O Construtivismo na Sala de Aula, Edições ASA, Porto, 2001
Cruickshank, D. R.The Act of Teaching, McGraw-Hill, Inc., NY, 1995
Karges-Bone, L.Lesson Planning, Allyn and Bacon, Needham Heights, 2000
Santos, M. E. V. M.Mudança Conceptual na Sala de Aula, Livros Horizonte,
Lisboa, 1998
Silva, L. M.Planificação e Metodologia, Porto Editora, 1982
Turner, T., DiMarco, W.Learning to Teach Science in the Secondary School,
Routledge, London, 19

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